Um projeto olímpico para a cidade



O Globo, Opinião, 21/mai
A prefeitura do Rio fez a sua parte ao apresentar ao Comitê Olímpico Internacional o plano para estender o esforço olímpico do município ao projeto de revitalização da Região Portuária.
As alterações sugeridas procuram desfazer a equivocada opção de concentrar na Barra praticamente todas as ações urbanísticas (melhoria do sistema viário, construção de equipamentos urbanos e esportivos, incentivo a novas habitações etc.) decorrentes da escolha da cidade como sede das Olimpíadas.
A lógica das modificações no plano de ação inicial se baseia não só na oportunidade, única, de levar ao Porto o mutirão urbanístico estimulado pelas Olimpíadas de 2016. Tal objetivo não poderia sair do terreno das boas intenções se a área a ser beneficiada não tivesse as condições físicas adequadas ao empreendimento.
De fato, trata-se de região na qual é abundante o número de terrenos e imóveis ociosos. Também é privilegiada sua localização geográfica, próxima ao Centro e tangenciando pontos estratégicos da cidade, como a Rodoviária Novo Rio, a Central do Brasil, o metrô e áreas empresariais, incluindo a financeira. O COI informou ontem que analisará a mudança de parte da Vila de Mídia. É um começo.
Há ainda a conveniência de, em razão dos grandes espaços disponíveis, o chamado projeto Porto Olímpico prever a construção de unidades habitacionais e apart-hotéis na área. Além de ajudar a combater o déficit habitacional, a ideia de erguer moradias num território que permanece degradado, apesar de reconhecidamente vital para a cidade, tem a vantagem adicional de ali fixar população, um princípio de qualquer política que vise a dinamizar a vida social e econômica de uma região. Exemplo concreto disso é a revitalização pela qual passou a Lapa, que, de bairro abandonado pelo poder público, passou a modelo de renascimento urbano, com um comércio pujante, opções abundantes de lazer e crescente oferta de moradias.
O COI há de ter boa vontade ao examinar o pedido da prefeitura do Rio. Afinal, existe o precedente histórico - e altamente benéfico para a cidade, como se verificou - das mudanças no eixo de intervenções urbanísticas do projeto de Barcelona, empreendidas depois da escolha da cidade espanhola como sede dos Jogos Olímpicos de 1992. A reivindicação vai ao encontro de interesses da cidade e da sua população, e a entidade costuma ser particularmente sensível a este aspecto, pressuposto da candidatura de uma cidade a sede das Olimpíadas.
Apresentado o pleito, os organismos envolvidos internamente com o projeto olímpico têm de estar atentos também para a fase de intervenções propriamente ditas. É certo que o direito de sediar os Jogos traz grandes investimentos para a cidade escolhida. Mas a simples entrada de recursos financeiros não garante, por si, os benefícios esperados. Disso, por exemplo, Atenas é prova: a capital grega promoveu os Jogos de 2004, endividou-se e pouco proveito social tirou do seu projeto olímpico. Cabe ao Rio optar entre, pelas Olimpíadas, dar um passo decisivo em direção ao futuro ou, por incompetência ou viciosas malfeitorias, permanecer atrelado a práticas do passado. Para o bem, as palavras de ordem a partir de agora devem ser planejamento, seriedade e compromisso com a cidade. As palavras de ordem devem ser planejamento, compromisso com o Rio e seriedade