O paraíso dos escritórios

Veja Rio, Alessandra Medina, 10/ago
Depois de assistir nas duas últimas décadas à migração maciça de empresas e escritórios para a Barra da Tijuca, o centro do Rio reage e dá sinais de acelerada recuperação. A construção de espigões e a reforma de prédios antigos não deixam dúvida: a região voltou a despertar o interesse de grandes investidores. Na quinta-feira (12), será inaugurado o segundo edifício do complexo Ventura Corporate Towers - o primeiro foi entregue em setembro de 2008. Cada uma das torres, na Avenida Chile, tem 36 andares e ambas estão totalmente locadas.
Trata-se de um empreendimento do gigante americano Tishman Speyer, empresa proprietária do Rockefeller Center e do Chrysler Building, ícones imobiliários de Nova York. "Temos atendido, a cada mês, a uma média de quatro firmas que se mudaram para a Barra e agora querem retornar", observa Jean Carvalho, gerente-geral da imobiliária Apsa. Esse movimento fez despencar a taxa de vacância para 0,6%, segundo estudos da Colliers Internacional, especializada no setor. Ou seja: agora, de cada 1 000 espaços comerciais situados no Centro, apenas seis estão disponíveis para ocupação. Um número ínfimo ante os 37% registrados em meados dos anos 90, quando estava em curso o esvaziamento da área.
A realização da Copa do Mundo e da Olimpíada - com todo o movimento financeiro decorrente -, a perspectiva concreta de revitalização da Zona Portuária e a estabilidade econômica do país são os fatores apontados para a redescoberta da região. Além dessas expectativas positivas, o Centro é um trecho bem servido de metrô e próximo de um aeroporto movimentado, duas flagrantes vantagens em relação à Barra da Tijuca. Como sempre acontece quando a demanda é muito maior que a oferta, os preços dos imóveis e aluguéis deram um salto. Em menos de dois anos, o valor do metro quadrado comercial para locação duplicou de 60 para 120 reais. Para se ter uma ideia, no mesmo período a valorização na Barra da Tijuca ficou na faixa de 15% a 20%. A alta deliberada de preços escancara as portas para grandes negócios e atrai uma série de empreendimentos. Além do complexo na Avenida Chile, a Tishman Speyer constrói outro prédio, na Avenida Presidente Vargas, com 21 pavimentos, previsto para ser entregue no primeiro semestre de 2011. "Há uma carência de escritórios de alto padrão naquela área", aponta Daniel Cherman, diretor da incorporadora americana. Ao farejar um bom negócio, é preciso agir rapidamente, sob o risco de perder a oportunidade num estalar de dedos, pois há muita gente de olho. Representante no Brasil de um grupo europeu, o administrador de empresas Allan Moura vem aplicando em imóveis no Centro há quatro anos. Em 2009, comprou por 1,6 milhão de reais um edifício de três andares na Rua do Rosário. A partir do ano que vem, após o término dos contratos de locação vigentes, ele planeja faturar anualmente com o aluguel das salas 20% do que investiu na aquisição do prédio. Uma rentabilidade e tanto. A título de comparação, o retorno de uma operação semelhante com um imóvel residencial em Ipanema ficaria em torno de 5% ao ano. "É um excelente negócio", garante Moura.
Como os terrenos para novas edificações são escassos e, para agravar a situação, na área central e suas adjacências há mais de 5 000 imóveis protegidos pelo patrimônio histórico, uma das alternativas para ampliar a oferta de espaços comerciais é a restauração de prédios antigos. O Edifício Serrador, na Cinelândia, que se encontrava degradado até passar por uma ampla reforma iniciada em 2006, agora está novinho em folha e vai abrigar as empresas de Eike Batista. Ali perto, outro endereço emblemático é alvo de processo semelhante: o prédio da Sul-América, que ocupa um quarteirão inteiro da movimentada Rua da Quitanda.
Orçada em 140 milhões de reais, a obra deve estar concluída em abril. O ponto vai ganhar um shopping no térreo e os oito andares superiores serão ocupados por escritórios. Entre os varejistas que já sinalizaram interesse em se estabelecer no complexo estão a grife de cosméticos francesa Sephora e a livraria Fnac.
A aposta é que as cifras do mercado imobiliário seguirão em alta por um bom tempo. Nas previsões mais otimistas, os valores vão começar a se estabilizar apenas daqui a três anos. "Por experiência, os preços só vão diminuir quando a taxa de vacância estiver próxima de 9%. É um índice muito maior do que o registrado hoje", afirma Mariana Ferreira, da Colliers Internacional. O carioca fica na torcida para que a revitalização dessa parte tão importante da cidade se irradie feito uma onda.