Alexandre Sansão: ‘Cidade terá rodízio de carros nas Olimpíadas’

Alexandre Sansão: ‘Cidade terá rodízio de carros nas Olimpíadas’

POR BEATRIZ SALOMÃO - O Dia - 19/09/2010

Rio - Para evitar que os engarrafamentos comprometam o sucesso dos Jogos Olímpicos de 2016, motoristas do Rio de Janeiro terão que adotar uma prática inédita na cidade: o rodízio de carros. Esta não será a única medida para garantir mais fluidez ao trânsito.
Foto: Eduardo Naddar / Agência O Dia
O cidadão pode acompanhar e saber se o governo está agindo certo, diz Sansão | Foto: Eduardo Naddar / Agência O Dia

A criação de quatro corredores expressos nas principais vias da cidade e de faixas exclusivas para o tráfego das delegações participantes está nos planos da prefeitura, de acordo com o secretário municipal de Transportes, Alexandre Sansão. Em encontro promovido por O DIA, Sansão respondeu às perguntas de sete leitores e explicou o funcionamento do Bilhete Único Municipal, o que muda com o contrato com as empresas vencedoras da licitação para operar as linhas de ônibus da cidade e os projetos para a Avenida Rio Branco e o Porto.

Alexandre Madruga, estudante de Sulacap

O Rio tem uma das passagens de ônibus mais caras do País. Há planos para reduzi-la?

Sansão: A tarifa de ônibus do Rio não é uma das mais caras do País. Em São Paulo, o preço do Bilhete Único é R$ 2,70, e no Rio será R$ 2,40. Estamos evoluindo. A tarifa era calculada de forma nebulosa, porque não havia contrato e uma fórmula clara para estabelecer o preço. Com a licitação, temos uma fórmula clara para o cálculo da passagem, com os insumos que fazem parte da definição do preço (óleo diesel, manutenção dos veículos, salário dos motoristas, público pagante). O cidadão pode acompanhar e saber se o governo está agindo certo.

O funcionamento do Bilhete Único Municipal será como o intermunicipal?

Sansão: Estamos conversando com o estado para integras os dois. Mas, com o municipal, o passageiro já vai pegar dois ônibus municipais por R$ 2,40, economizando R$ 2,30. O prazo será de duas horas e o RioCard será convertido em Bilhete Único. Quem pegar um transporte pagará o mesmo de quem pega dois. É um projeto social, que vai beneficiar quem mora mais longe do trabalho e tem menor renda, em geral. Acaba sendo também uma questão habitacional. Hoje temos ocupação irregular, porque as pessoas querem ficar perto do trabalho. Com o Bilhete, estimulamos as pessoas a buscar regiões com ocupação regular, sem que o custo com transporte atrapalhe o deslocamento.

Luiz Antônio Vieira, publicitário de Botafogo

Diferentemente do Bilhete Único estadual, o municipal não contará com subsídios da prefeitura. Como ficará para as empresas?

Sansão: O valor do Bilhete Único de R$ 2,40 foi estudado pela prefeitura para equilibrar o sistema e a relação receita e custo das empresas. Se não damos subsídio, é porque as empresas não vão precisar. Todas as questões estão no contrato de concessão: estão previstos um reajuste anual por causa da inflação e um reequilíbrio econômico a qualquer momento, se necessário. Se diminuir o público pagante, teremos que aumentar a tarifa.

Como está o andamento dos corredores expressos de ônibus (BRTs)?

Sansão: A Transcarioca (da Barra à Penha) já conseguiu recursos do BNDES e estará pronta até 2016. O primeiro trecho fica pronto antes, entre 2013 e 2014. O segundo trecho, da Penha à Ilha do Governador, passando pelo Fundão, termina em 2016. Na Av. Brasil, temos outro projeto de BRT, elaborado com o escritório do Jaime Lerner, que se integrará com a Transcarioca na Penha e com a Transolímpica em Deodoro, chegando depois a Santa Cruz.

O que tem sido feito pelo meio ambiente?

Sansão: Estimulamos o transporte coletivo e, assim, colaboramos para a redução de gases poluentes na atmosfera. Além disso, para os ônibus, estão previstos motores que não agridam o meio ambiente e o uso de biocombustíveis. Vamos acompanhar toda evolução tecnológica neste sentido para implantar. Em um futuro breve, teremos ônibus com combustível elétrico, mas somente quando o custo de implantação for baixo para a prefeitura.

Edson Santana, estudante de Realengo

O que a Secretaria Municipal de Transportes tem feito em relação à meia passagem para estudantes?

Sansão: A primeira contribuição foi formular o projeto de meia passagem para universitários nos ônibus municipais. O prefeito Eduardo Paes recebeu a UNE, se comprometeu de enviar este projeto à Câmara de Vereadores e o fez em novembro. Cabe agora à Câmara examinar.

Muitos estudantes reclamam da falta de linhas na UFRJ. Há algum projeto para a região?

Sansão Há um projeto, mas não é só para o Fundão. Com a recente licitação, a prefeitura passa a ser dona das linhas de ônibus. Vamos conversar com os quatro consórcios e determinar a área de exploração de cada um. Na Zona Sul, onde há muito ônibus, o consórcio não vai precisar de tanta frota. Vai colocar o necessário para transportar as pessoas de acordo com a lotação máxima estabelecida. Assim, vai sobrar recurso para investir onde há menos ônibus. A prefeitura tem um contrato que vai exigir frota mínima de ônibus para atender a linha.

Roque Pereira da Silva, fotógrafo da Penha

O passe livre para doentes crônicos não vem sendo respeitado. O que a secretaria pode fazer para ajudar?

Sansão: Encurtar o tempo de espera para quem tem direito de receber o passe livre, por lei, será uma das consequências das mudanças que estão começando a partir da assinatura dos contratos (sexta-feira). Teremos mais meios para fiscalizar isso. A prefeitura vai fazer com que a lei seja cumprida.

Há muitos assaltos em ônibus. Como reduzir esses índices?

Sansão: O contrato de licitação prevê que todos os ônibus tenham câmeras de segurança embarcadas. Não há planos de colocar agentes de segurança dentro dos ônibus. As câmeras vão permitir que a polícia atue com mais facilidade e intimide os assaltantes.

Existe alguma previsão de a prefeitura fazer a licitação de mototáxi para driblar o trânsito?

Sansão: Mototáxi não é um transporte seguro, que provoca mais acidentes. É muito arriscado, e a cidade do Rio não combina com isso.

Gilvanete dos Santos, dona de casa da Vila Kennedy

O fechamento da Av. Rio Branco só para pedestres prejudicará outras vias?

Sansão: Só 30% do fluxo dessa avenida corresponde a tráfego de passagem. O resto é ônibus e táxi. Os 30% podem ir para outras vias, sem problemas. Estamos analisando o projeto de criar um boulevard de pedestres no local.

Valtenci Machado Leite, aposentado do Méier

Como seria o fim da Perimetral?

Sansão: Através do projeto Porto Maravilha, estamos cuidando do fim da Perimetral. Pensamos em transformar a Rodrigues Alves em uma via de alta capacidade para absorver o tráfego da Perimetral. Parte desse tráfego nem precisaria passar pelo Porto, mas passa porque existe a via para levar da Zona Sul à Ponte Rio-Niterói. A prefeitura estuda a ligação direta do Túnel Rebouças com a Perimetral, no trecho do Gasômetro. Pensamos na criação de uma via, quase expressa, mas que ficaria ao nível do mar. Assim, não teríamos mais o viaduto. É importante que a população saiba que tudo está sendo estudado e não faremos loucura. Vamos melhorar urbanisticamente e a mobilidade.

Antônio Rodrigues Tavares, aposentado de Vista Alegre

O que será feito para amenizar os engarrafamentos nas Olimpíadas de 2016?

Sansão: Durante o período dos Jogos, a gente vai implantar esquema de rodízio rigoroso. Teremos faixas exclusivas para as delegações também. Nas férias, a redução de demanda de transporte é de 35%. Até lá, o transporte público estará melhor, com os corredores viários, mais trens e linhas do metrô. O projeto foi bem recebido pelo Comitê Olímpico Internacional. Com a qualidade do transporte coletivo, temos chance de atrair as pessoas que usam carro. Hoje temos cenário de estímulo à aquisição do carro. Queremos a circulação racional com mais gente utilizando transporte coletivo e menos o particular, para amenizar os engarrafamentos.