Olimpíada e UPPs inflacionam preços nos bairros do Rio de Janeiro

18/10/2010- R7 - Sérgio Vieira

Cexemplo há as melhorias em infraestrutura (transporte, rede hoteleira, indústria etc), também por causa da Copa do Mundo de 2014; as perspectivas de crescimento econômico originadas com os ganhos do pré-sal; e, ainda, a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), já que alguns bairros da cidade estão se beneficiando com redução da violência. No geral, segundo especialistas, os terrenos e imóveis - que já não eram baratos - valorizaram-se em todos os bairros da cidade.

Um levantamento realizado pelo R7 confirma os dados e mostra que o superaquecimento não dá sinais de redução, pelo menos nos próximos meses. Para alugar ou comprar imóveis no Rio é preciso desembolsar até 112% a mais na comparação, nos últimos 12 meses, com bairros de alto nível, por exemplo, da cidade de São Paulo, de acordo com os dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Para Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi Rio (sindicato de habitação), "tanto a Copa quanto a Olimpíada estão colaborando para aumentar os valores dos imóveis em toda a cidade, em especial nas regiões que já possuem excelente infraestrutura ou que serão beneficiadas com novos investimentos".

Segundo pesquisa da consultoria inglesa Jones Lang LaSalle, o Rio está na mesma fase que Barcelona (Espanha) e Atenas (Grécia) estavam quando sofreram um boom imobiliário nos anos anteriores à Olimpíada, o que não ocorreu com cidades como Atlanta (EUA) e Sidney (Austrália), que já eram bastante organizadas.

Os Jogos Olímpicos de 2016 vão revitalizar por completo toda a região da zona portuária (que será transformada em área de lazer) e o trânsito deve ficar mais organizado com a criação do corredor T5 (via de ônibus expresso que ligará a zona norte à Barra da Tijuca, na zona oeste). Além disso, a construção da linha quatro do metrô, que ligará a zona sul à Barra da Tijuca, colabora para dar gás novo para o mercado imobiliário de Ipanema à Barra.

.Ainda de acordo com Schneider, além dos eventos esportivos, os programas de incentivo ao crédito, com prazos e valores maiores a juros menores, também contribuem para elevar a procura por imóveis na capital fluminense.

Já para Antônio Paulo Monnerat, vice-presidente de locações do Secovi Rio, o aumento da segurança em muitos bairros (Flamengo, Copacabana, Tijuca e arredores) é o que reflete a alta dos preços verificada nos últimos 12 meses.

- A valorização vem ocorrendo por conta da consolidação do projeto das UPPs em comunidades da zona sul e do aumento da demanda, que vem acompanhado de oferta ainda tímida. Desde o anúncio da criação das UPPs, o mercado imobiliário da Tijuca e arredores tem se tornado mais atraente. Pesquisa do Secovi Rio revelou que houve alta de até 148,89% nos valores dos aluguéis e de 59,41% nos preços para venda em bairros beneficiados por UPPs na zona sul.

No ranking geral, de acordo com o Secovi Rio, os bairros mais caros do Rio de Janeiro, em outubro de 2010, são Leblon, Ipanema, Lagoa, Gávea, Jardim Botânico, Copacabana, Arpoador, Botafogo, Flamengo, Laranjeiras, todos na zona sul, e Barra da Tijuca, na zona oeste. Veja abaixo mais informações sobre cada um.

Leblon e Ipanema

No topo do ranking, o metro quadrado mais caro no Rio de Janeiro se localiza no Leblon, com custo médio de R$ 11.964. Em segundo lugar está Ipanema, que possui valor médio de R$ 11.392. Se considerarmos os bairros vizinhos ao Leblon (Ipanema e Arpoador), o valor do metro quadrado pode ficar perto de R$ 18.000.

No entanto, está na avenida Vieira Souto (Ipanema) o imóvel com valor mais alto encontrado: R$ 19.683 o metro quadrado, segundo levantamento do Creci (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio de Janeiro).

No Leblon, há oito anos, havia imóveis por R$ 500 mil, mas atualmente é muito raro encontrar qualquer apartamento por menos de R$ 1 milhão. Os preços do aluguel de um apartamento de um quarto no Leblon, no período de um ano, entre setembro de 2009 e setembro de 2010, aumentaram mais de 102%.

O alto valor pedido para os imóveis situados na orla das avenidas Vieira Souto e Delfim Moreira (Leblon) refletem a falta de novos terrenos para construção e a alta procura, na análise de Antônio Paulo Monnerat, vice-presidente de locações do Secovi Rio.

- No Leblon, além das poucas construções, a demanda é enorme. O bairro ainda é sonho de consumo de muitas pessoas que melhoraram a renda.

Lagoa, Gávea e Jardim Botânico

A tranquilidade e a qualidade de vida da Lagoa valem R$ 14.956 o metro quadrado na região mais valorizada, mas, de acordo com o Secovi Rio, o custo médio fica em R$ 9.101 o metro quadrado. O bairro carioca, às margens da lagoa Rodrigo de Freitas, tem o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Urbano) da cidade e concentra uma população bastante homogênea, de alto poder aquisitivo e imóveis que variam de R$ 700 mil a coberturas de R$ 3 milhões.

Ao lado, a Gávea e o Jardim Botânico também não deixam a desejar. O preço médio na região fica em R$ 11.798 (com valor médio de R$ 7.790) e R$ 10.559 (com valor médio de R$ 7.599), respectivamente. Além dos três bairros acima estarem aos pés do Cristo Redentor, o Jardim Botânico e a Gávea atraem moradores jovens com perfil parecido com o da Lagoa, em busca de ambiente mais calmo, longe da movimentação de outros bairros próximos, como Copacabana.

Copacabana e Arpoador

A famosa Copacabana também observa crescimento bastante acentuado nos valores praticados na região e leva a sexta posição no ranking. O valor do metro quadrado na "Princesinha do Mar" chega a R$ 9.669 nos pontos mais caros, com custo médio de R$ 6.902. Além da bela praia, o bairro é conhecido por apresentar o maior índice de população na terceira idade no mundo.

O Arpoador, que se localiza entre o forte de Copacabana e o começo da praia de Ipanema, tem custo médio de R$ 6.782, mas pode alcançar R$ 8,754 na divisa com a avenida Vieira Souto. A região, que já foi lar dos surfistas, apresenta espaço restrito, com cerca de 500 metros.

Botafogo e Flamengo (com Laranjeiras)

Em seguida, Botafogo aparece no levantamento com preço médio do metro quadrado em R$ 6.475, podendo alcançar R$ 7.213. No bairro, a maior variação no aluguel foi registrada para os apartamentos de quatro quartos, que passou de R$ 2.075 em setembro de 2009 para R$ 4.975 em setembro de 2010, alta de 139,76%.

Segundo Álvaro Spezin, sócio do Portal Imóveis de Luxo, a segurança proporcionada pelas UPPs na região contribuiu para aumentar os preços dos imóveis e nos arredores, com destaque para Flamengo, Laranjeiras e Humaitá.

No Flamengo, o preço médio chega a R$ 6.347, muito próximo do patamar de Laranjeiras, onde o metro quadrado alcança R$ 5.918. O mercado imobiliário destes bairros cresce desde 1979, quando o metrô chegou à região.

O perfil dos habitantes se encontra entre 25 e 36 anos, de classe média e média-alta, com alguns apartamentos de alto-luxo situados na avenida de frente para a orla (praia do Flamengo e avenida Rui Barbosa).

Barra da Tijuca

Apesar do alto status, a Barra da Tijuca conquistou a décima colocação no levantamento entre os bairros mais caros do Rio de Janeiro. O metro quadrado médio fica em R$ 5.518, alcançando R$ 8.457 nos lugares mais caros. A explicação é simples. A região é relativamente nova e ainda possui muitos terrenos para expansão. Desde a década de 1990, a Barra cresceu 44%, segundo dados da Ademi Rio (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário).

A visão oficial

O secretário de desenvolvimento do Instituto Pereira Passos, Felipe Góes, afirmou em evento realizado no Palácio da Cidade, em Botafogo, na zona sul, que o alto preço dos imóveis para alugar ou vender na cidade do Rio de Janeiro não preocupa a prefeitura, ao contrário, é sinal de "desenvolvimento".

- Não me preocupa e nem preocupa a prefeitura que o Rio de Janeiro tenha o metro quadrado mais caro do Brasil. O que nos importa é encontrar terrenos disponíveis para viabilizar novas construções, isso sim é o que nós estamos correndo atrás.