Arquiteto americano que comanda o projeto do Parque Olímpico diz que plano desenvolverá a região após os Jogos

01/10/2011 - O Globo, Luiz Ernesto Magalhães

As plantas coloridas que o arquiteto americano Bill Hanway vai abrindo aos poucos no escritório do colega brasileiro e parceiro de projeto Daniel Gusmão ajudam a desvendar os segredos do plano de ocupação do Parque Olímpico do Rio, onde hoje fica o Autódromo de Jacarepaguá. Ao explicar os desenhos, Bill revela: a arquitetura brasileira e a paisagem da cidade inspiraram os projetos. Responsável também pelo projeto do Parque Olímpico de Londres de 2012, Bill chegou ao Rio, na quinta-feira, para a primeira reunião de trabalho com a equipe brasileira, depois que o projeto venceu, em agosto, o concurso internacional, promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil e pela prefeitura. Em sua primeira entrevista após a vitória, Bill diz que há muito a fazer, inclusive planejar o futuro da área após as Olimpíadas de 2016.

O GLOBO: Como o senhor analisa o local escolhido para o futuro Parque Olímpico?

BILL HANWAY: O relevo do Rio de Janeiro faz com que a cidade tenha a paisagem mais bela do mundo. E essa característica eu encontrei no terreno. A área é cercada por dois morros e fica às margens de uma lagoa. O conceito do projeto foi desenvolvido a partir daí: criar uma via de circulação do público pelo parque que levasse em conta esses elementos.

Um dos esboços mostra que a principal via de acesso às instalações esportivas remete aos desenhos do calçadão de Copacabana. Por quê?

HANWAY: Queríamos homenagear a arquitetura brasileira, mas atendendo aos nossos objetivos. Os desenhos formam um calçadão sinuoso para que o público circule desde a entrada do Autódromo até a beira da Lagoa de Jacarepaguá. Também temos referências à flora brasileira Algumas áreas de serviço que concebemos têm o formato de flores encontradas na paisagem.

A preocupação do projeto se resumiu à paisagem?

HANWAY: Negativo. Nós queremos que o público aproveite ao máximo a experiência de receber os Jogos Olímpicos. Isso ajuda também a evitar que todos saiam ao mesmo tempo das instalações esportivas, após assistirem a uma competição. Isso poderia ser um problema porque, em alguns dias, o público poderá chegar a 120 mil pessoas. O calçadão levará o público não apenas às instalações esportivas, mas também a áreas de lazer e alimentação. E também ao espaço (live site) onde o público poderá acompanhar por telões competições em vários locais.

E como se dará o acesso do público, já que por razões de segurança a chegada ao parque será principalmente por transporte coletivo?

HANWAY: Em 2016, a região no entorno do Parque Olímpico será atendida por linhas de BRTs. Na entrada do futuro Parque Olímpico, teremos vários pontos de desembarque. Todos fluirão para um mesmo espaço de checagem de segurança. Após passar por essa área, o público chegará ao calçadão que liga as instalações esportivas às áreas de lazer.

Como a experiência de planejar o Parque Olímpico de Londres ajudará no desenvolvimento do plano carioca?

HANWAY: Londres ajudou a nossa equipe a entender que o plano de um parque olímpico não pode ser rígido. Ele pode sofrer modificações para atender às necessidade do evento. A preocupação não é apenas com as Olimpíadas, mas também que a área cresça nos anos seguintes de maneira planejada, valorizando também o seu entorno. Tudo será desenvolvido e pensado em equipe. Provavelmente, em 12 de outubro, apresentaremos ao Comitê Organizador Rio 2016 e ao prefeito Eduardo Paes os primeiros estudos desenvolvidos a partir do plano conceitual.

O concurso previa que, após as Olimpíadas, uma parte dos equipamentos esportivos formasse o futuro centro de treinamento do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). E as áreas restantes deveriam ser entregues para à iniciativa privada. Como foi essa divisão?

HANWAY: O concurso previa que 40% do terreno fosse destinado ao Centro Olímpico e 60% fosse entregue à exploração da iniciativa privada, após os jogos. Nós decidimos arriscar e a ousadia deu certo: concentrar as instalações esportivas permanentes numa área equivalente a 25% do total. Nas Olimpíadas, essa concentração ajudará no controle da circulação do público e na infraestrutura do evento.

A empresa Aecom, que o senhor representa, fará dois projetos de parque olímpicos consecutivos? Existe uma fórmula para esses projetos?

HANWAY: As áreas escolhidas no Rio e em Londres têm características distintas. E isso não se limita à questão econômica, porque o Parque Olímpico de Londres foi construído numa antiga região degradada, ao contrário do que acontecerá no Rio. A área do Parque Olímpico de Londres é 2,5 vezes maior do que a do Autódromo de Jacarepaguá. Os desafios para ocupação da área antes e depois das Olimpíadas são diferentes. Ao contrário de Londres, o Estádio Olímpico João Havelange foi construído fora do parque. Aliás, me chamou a atenção o projeto olímpico do Rio justamente por isso. Vocês terão competições por todas as regiões da cidade, levando-se em conta as características físicas e de crescimento dos bairros.

Que diferenças existiram entre o processo de seleção do projeto escolhido pelo Rio e o realizado para o Parque Olímpico de Londres?

HANWAY: Em Londres, os escritórios foram convocados para expor suas idéias. No Rio, foi proposto um concurso público internacional, que exigiu o desenvolvimento desses conceitos na prática. Nós tivemos dois meses para desenvolver o projeto, com uma equipe formada por 25 pessoas, entre estrangeiros e brasileiros.