Um plano B para o Joá

31/10/2012 - O Globo, Luiz Ernesto Magalhães

Prefeitura estuda construção de túnel como alternativa a uma terceira faixa no elevado

A prefeitura estuda um plano B de intervenções no Elevado do Joá com o objetivo de melhorar o acesso viário entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca para os Jogos Olímpicos de 2016. O projeto original era construir uma terceira faixa no sentido Barra, com o alargamento dos túneis do Joá e de São Conrado. Mas uma proposta alternativa, desenvolvida por técnicos da GEO-Rio, ganhou na terça-feira o sinal verde do prefeito Eduardo Paes: a construção de um novo túnel a partir de São Conrado, com duas faixas de trânsito.
- O túnel parece ser um projeto melhor que a terceira faixa - disse Paes.
O secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, explicou que cada intervenção tem vantagens e desvantagens. Os estudos da terceira faixa estão mais adiantados, com o desenvolvimento de um projeto executivo por uma empresa contratada. Nesse caso, o elevado ganharia, no tabuleiro superior, uma faixa adicional, que ampliaria a capacidade da via. A proposta do túnel ainda se encontra na fase de projeto conceitual na GEO-Rio. Para não perder tempo, o projeto executivo seria desenvolvido junto com as obras. Segundo Pinto, enquanto o martelo não é batido, ambas as propostas serão apresentadas ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para serem licenciadas.
- O problema da terceira faixa é que não podermos fazer as obras sem interditar o Elevado do Joá no sentido Barra da Tijuca. Devido ao tráfego pesado de dia, nosso horário de trabalho ficaria limitado entre meia-noite e 5h da manhã. Seriam pelo menos 24 meses de obras. O túnel poderia ser concluído em 18 meses sem tantos problemas. Poderíamos fazer rápidas interrupções para detonações de rochas, e as escavações poderão ser a qualquer hora. No trecho da Barra, uma das faixas (do túnel) seguiria em direção à Barrinha. Seria possível redimensionar as faixas de trânsito até a Armando Lombardi sem alargar o viaduto existente - disse Alexandre Pinto.
No caso da terceira faixa, o custo estimado é de R$ 150 milhões e prevê também a implantação de uma ciclovia, criando uma ligação por bicicleta entre a orla da Barra e do Recreio dos Bandeirantes e a Zona Sul da cidade. Segundo Alexandre Pinto, o custo da proposta alternativa ainda está sendo levantado. Mas, se por um lado, o túnel aumenta a capacidade de tráfego na via, por outro, o projeto, por limitações técnicas, não permite a implantação de ciclovia.
Segundo Alexandre Pinto, os consultores de transportes do Comitê Olímpico Internacional (COI) analisaram a proposta alternativa e a consideraram viável. O que existe de concreto é que, independentemente do projeto escolhido para os Jogos Olímpicos, as obras terão de começar ainda em 2013.
Hoje, cerca de 112 mil veículos circulam diariamente pelo Elevado do Joá, que já apresenta sinais de saturação no início da manhã (em ambos os sentidos) e no fim da tarde (principalmente em direção à Barra da Tijuca). O diretor de Desenvolvimento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), Ricardo Lemos, explicou que há 15 dias conheceu o novo projeto desenvolvido pela GE0-Rio e que, do ponto de vista do trânsito, ainda não tem dados sobre o que ele representaria em termos de aumento de capacidade.
- Apenas uma terceira faixa na parte de cima do Joá representaria um aumento de 25% na capacidade da via. O Joá passaria a ter cinco faixas (duas na parte inferior em direção a São Conrado e três no tabuleiro superior no sentido Barra). Isso permitiria operar a terceira faixa como reversível, conforme o horário. No novo projeto, teremos que analisar isso melhor, já que a faixa seguiria para a Barrinha, e não em direção à área central da Barra - disse Lemos.
Para o presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, Delair Dumbrosck, o ideal seria que a prefeitura duplicasse toda a Auto-Estrada Lagoa-Barra. O projeto, porém, foi abandonado pelo município sob o argumento de que isso só atrairia mais carros para a via:
- Se a decisão for pelo alargamento (do elevado) ou construção de um novo túnel, isso vai gerar aumento de tráfego da mesma maneira. Mas, para quem mora na Barra, qualquer que seja a solução escolhida a situação será melhor que a atual. Se a tendência é promover cada vez mais eventos no bairro, é preciso investir em melhorias nos acessos para a região - disse o presidente da Câmara Comunitária.
As melhorias no Joá seriam um dos legados olímpicos para o Rio. Mas, durante as Olimpíadas, haveria restrições de circulação. Durante o evento, o tráfego dos carros de passeio em ambos os sentidos do elevado deverá ser feito apenas pela plataforma superior.
A pista inferior (que hoje é usada apenas em direção à Zona Sul) seria utilizada no deslocamento de coletivos e carros oficiais da família olímpica.
Discussão já dura 16 anos
Há pelo menos 16 anos, a prefeitura discute melhorias viárias no acesso entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca. Mas nenhuma delas saiu do papel. Agora, a solução não pode ser mais adiada devido aos compromissos com o Comitê Olímpico Internacional (COI), que, em candidaturas anteriores, apontou os problemas de trânsito como um dos principais motivos para tirar o Rio da disputa. No caderno de encargos da candidatura para os Jogos Olímpicos de 2016, havia a proposta de implantar um corredor de BRT entre a Barra e a Zona Sul que incluía a construção de mergulhões na Lagoa-Barra para eliminar sinais em cruzamentos com a Rua Mário Ribeiro e Praça Sibélius. Após a vitória do Rio, começaram as negociações com o COI para rever os planos. O COI concordou em excluir o projeto das obrigações olímpicas, porque o governo do estado decidiu levar adiante a construção de parte da Linha 4 do metrô (entre Barra e São Conrado), que será conectada com a Linha 1 na Zona Sul. Mas ainda exigiu uma alternativa ao metrô. A opção foi redimensionar o Joá.


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