Orla carioca gera 20 mil empregos diretos e fatura R$ 1,4 bi por ano

18/11/2012 - O Globo

Mercado alavanca os lucros de bares, restaurantes, hotéis e até mesmo de indústrias

Lucros à beira-mar. Vendedores de cangas, biquínis e mate percorrem a areia oferecendo seus produtos aos banhistas: mais de mil ambulantes trabalham em cerca de 70 praias cariocas, movimentando a economia Pedro Kirilos

RIO - A economia bronzeada do Rio já mostrou seu valor. Com 20 mil empregos diretos e um faturamento em torno de R$ 1,4 bilhão por ano, diversificado e bem distribuído por 90 quilômetros de praias, a orla carioca é hoje o maior centro de comércio e serviços a céu aberto da cidade. Negócio que parece impulsionado pelas correntes do mar e alcança mercados para além da areia, alavancando os lucros de bares, restaurantes, hotéis e até mesmo de indústrias do país. Só na rede hoteleira da Zona Sul e da Barra, a maré boa rendeu, nos últimos quatro anos, uma arrecadação de R$ 229 milhões em ISS.

Por trás desse sucesso, está o encantamento exercido pelas praias do Rio. Segundo dados da Riotur, elas são o principal destino de turistas brasileiros e estrangeiros que chegam à cidade. Trata-se de uma multidão ávida por consumir. Na última temporada de verão, de dezembro do ano passado a maio deste ano, foram 3,017 milhões de visitantes que deixaram por aqui uma renda de US$ 2,2 bilhões (R$ 4,5 bilhões). Os estudiosos do mercado estão de olho nesse filão.

O perfil do turismo no Rio vem mudando. Sem estações definidas, turistas chegam durante todo o ano, e a economia das praias se mantém aquecida mesmo fora da alta temporada. A sazonalidade do Rio depende diretamente do tempo explica a pesquisadora Margareth Carvalho, gestora de um projeto do Sebrae criado para capacitar esses novos empreendedores que nascem nas areias quentes do Rio.

Internet na divulgação e frete de avião

O mercado das praias chega a reunir um milhão de consumidores nos fins de semana. É o tempo que vai definir, muitas vezes, as ondulações do negócio. Dele depende, por exemplo, a produção diária de uma fábrica do Centro do Rio que detém a marca do biscoito de polvilho mais famoso, o Globo. Em dias de sol, são produzidos 15 mil saquinhos.

Praticamente tudo vai para a orla diz Francisco Torrão, um dos sete sócios da empresa, fundada em São Paulo, em 1953, mas que logo veio para o Rio.

Empreendimento enxuto, mas bem-sucedido. São 22 funcionários preparando os biscoitos que saem da Rua do Senado por R$ 0,80 e são vendidos por até R$ 3 à beira-mar.

A economia legalizada da orla é movimentada por 1.079 ambulantes que trabalham em mais de 70 praias, além de 1.123 barraqueiros e 820 auxiliares.

Nós preferimos ser chamados de empreendedores afirma o presidente da Associação do Comércio Legalizado da Praia (Ascolpra), Paulo Joarez, ex-sacoleiro, hoje proprietário de uma barraca na Praia de Copacabana, na altura da Rua Santa Clara, onde fica a sede da associação. Saí do Sul sem qualquer perspectiva e acabei na praia como ambulante em 1985. Depois montei uma tenda para atender o pessoal de uma rede de vôlei, mas vivia perdendo para o rapa. Em 1996, iniciamos um movimento pela legalização e, no primeiro cadastramento em 1998, conseguimos as licenças provisórias e criamos a associação.

Hoje, Joarez é patrocinado por uma cervejaria que lhe fornece duas caixas térmicas, 30 barracas de sol e 60 cadeiras que ele aluga para os frequentadores. Se saísse do seu bolso, a infraestrutura lhe custaria R$ 9 mil. Bom para os barraqueiros e lucro para a indústria de bebidas. Segundo a associação dos ambulantes legalizados, só as barracas vendem, em média, cem caixas de cerveja por semana no verão carioca, o que dá mais de 1,3 milhão de latinhas. Isso sem contabilizar os ambulantes e os quiosques.

Há 30 anos vendendo empadinhas nas praias, Denílson Guedes, o Bandeirinha de Copacabana, mantém blog e perfil no Facebook para promover o negócio. Já Luís Fernando Barbosa de Oliveira, que revende toalhas trazidas de Natal, faz viagens de avião frequentes para buscar o produto e manter o calor das vendas:

De ônibus não dá. A firma quebra.

O vendedor de chapéus Manoel Inácio da Conceição compra seus produtos mais perto, na Saara, mas mesmo assim não tem vida fácil:

É sol e peso no lombo de 7h às 15h todos os dias e quilômetros de areia para atravessar.

Em frente ao Othon Palace, em Copacabana, Leilamar de Oliveira Rodrigues serve quentinhas. Ou melhor: comanda o mais conhecido serviço de almoço executivo da região.

Acordo às 5h para começar fazer as três receitas do dia, que seguem rigorosamente as regras da fiscalização sanitária garante.

Por dia são até 150 quentinhas, a R$ 10 cada.



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