Túneis do Rio são mal iluminados e não contam com sistema de exaustores, nem sinalização

08/12/2012 - O Globo

Em algumas galerias, a estrutura apresenta sinais de infiltração.

Qualidade do ar. Motoristas que circulam pelo Zuzu Angel se queixam da falta de um sistema de exaustão, prioritário em caso de incêndio ou engarrafamentos nas galerias. O túnel também não tem telefones de emergência, placas que informem o limite de velocidade ou sistema de sinalização vertical para indicação de pistas liberadas Pedro Kirilos / O Globo

Rio - Antes de chegar à luz no fim do túnel, os motoristas cariocas andam percorrendo caminhos sombrios e, não raras vezes, inseguros. Quem atravessa o Túnel do Joá, entre São Conrado e Barra da Tijuca, por exemplo, sabe que há sempre riscos à frente: iluminação precária (que deixa as galerias às escuras), sinais de corrosão avançada (no trecho sob o Elevado das Bandeiras), ausência de placas e de sistema de exaustão, fiação lateral aparente (o que facilita o furto dos fios)... Ali perto, o Túnel Zuzu Angel também poderia oferecer mais segurança aos usuários que cruzam seus 1.522 metros de extensão, nos dois sentidos. Faltam sistema de exaustão, telefones de emergência, placas com limite de velocidade e radares, além de a estrutura apresentar sinais de infiltração em alguns trechos.

Situado entre o mar e a montanha, o Rio tem uma topografia que precisa de túneis para permitir os deslocamentos entre os bairros, diz o engenheiro civil Antonio Eulalio Araujo, especialista em pontes e grandes estruturas e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ). Por isso, sua manutenção deveria ser prioritária e constante, na avaliação do técnico, que percorreu com uma equipe do GLOBO os principais túneis da cidade Joá, Joatinga, Zuzu Angel, Rebouças, Túnel Novo, Túnel Velho, Santa Bárbara, da Linha Amarela, da Rua Alice, Acústico (Gávea), João Ricardo (na Central), Noel Rosa, Martim de Sá (na Rua Frei Caneca), Mergulhão (na Praça XV), Major Rubens Vaz e Sá Freire Alvim (ambos em Copacabana) para avaliar a situação de cada um e dar sugestões de segurança. Ao fim da tarefa, o engenheiro considerou o Rebouças e os túneis da Linha Amarela como os que estão em melhores condições. Já os túneis Noel Rosa, João Ricardo e do Joá são, na avaliação do engenheiro, os piores.

No ranking das prioridades para os túneis cariocas, o especialista aponta a necessidade de instalação em todos eles de sinalização vertical para a indicação de pistas liberadas e obstruídas. A exceção são os da Linha Amarela e o Rebouças, que já têm o sistema.

Ao ver, logo na entrada do túnel, o sinal vermelho ou verde, o motorista tem tempo de mudar de faixa com antecedência. O trânsito flui melhor porque ele não vai precisar desviar em cima do ponto bloqueado. Os riscos de acidente também diminuem explica.

Outra falha: faltam telefones de emergência (alvos de furto e vandalismo) em praticamente todos os túneis. Antonio Eulalio sugere que cada um passe a contar com um serviço 0800.

Todo mundo tem celular hoje em dia. Se os telefones de emergência são furtados, os túneis deveriam ter placas informando um serviço de 0800 explica o engenheiro, que é mestre em patologias de estruturas de concreto.

Ele critica ainda o fato de a grande maioria dos túneis não ter graduação de luminosidade luzes mais fortes na entrada para que o motorista não tenha a sensação de escuridão.

Rebouças: Placas inadequadas

Mesmo o Túnel Rebouças, um dos mais bem avaliados, não passa com nota máxima, na avaliação do técnico. As placas informativas instaladas nas galerias têm letras inadequadas: são pequenas e visíveis apenas de perto.

O ideal é que o motorista leia a informação já de uma certa distância. Não em cima da placa acrescenta.

Usuário dos túneis Zuzu Angel e do Joá, Eduardo Lima, morador da Barra, tem uma lista de reclamações.

Eu tenho medo de passar, principalmente, pelo Joá, que é escuro e tem a fiação aparente. Mas o pior são os pedaços de concreto que ameaçam cair. Eu procuro passar o mais rápido possível. O Zuzu é um pouco melhor, mas fico pensando como será num momento de engarrafamento ou um carro pegando fogo. Não tem exaustores nem telefones de emergência diz ele.

Entre as recomendações de segurança do engenheiro para todos os túneis está a pintura de faixas no asfalto não apenas separando as pistas mas também nas laterais (junto às paredes das galerias). Segundo Eulálio, isso ajudaria na orientação dos motoristas. Outros pontos importantes são as informações sobre o limite de velocidade e a instalação de radares.

Entre os piores túneis em aparelhamento, o Túnel Noel Rosa, em Vila Isabel, tem problemas como asfalto com buracos, iluminação ruim, fiação aparente, infiltração nas paredes e até vegetação crescendo na entrada das galerias. Já no Túnel da Central, não há guarda-corpo para proteger os pedestres nem faixas pintadas no asfalto, sinalização ou graduação de luz para quem entra na galeria, por exemplo.

Usuária do Noel Rosa, a estudante Bárbara Oliveira conta que evita passar pela via a partir do fim de tarde:

Tenho medo porque é comum o túnel estar às escuras, já que a fiação é roubada com frequência. Se passo rápido, posso cair numa das depressões na pista e enguiçar. Como a área é cercada por favelas, seria assustador.

O técnico do Crea diz que é preciso vistorias a cada três meses nos túneis e uma, mais completa, anualmente.

Prefeitura anuncia vistoria

Responsável pela manutenção dos túneis, a prefeitura deveria garantir a conservação de pavimento, a limpeza e a iluminação. Em nota ao GLOBO, a Secretaria municipal de Conservação (Seconserva) informou que as vistorias ocorrem regularmente: Cada órgão é o responsável pela realização do seu serviço, ou seja, Comlurb faz limpeza, Rioluz os reparos de luminárias, etc. A CET-Rio coordena os fechamentos e também indica problemas a serem corrigidos nos túneis Santa Bárbara, Rebouças e Zuzu Angel. Segundo a nota, a prefeitura, que conta com um programa de recuperação de túneis desde outubro de 2011, informa que realizará vistoria nos locais visitados pelo O GLOBO e providenciará possíveis reparos de sinalização horizontal, ausência de placas e iluminação. Apesar disso, o órgão afirma que não há qualquer risco estrutural para os motoristas. No Rebouças, e demais túneis, as placas, que seguem o padrão do Código de Trânsito Brasileiro, começaram a ser substituídas e a previsão é que o trabalho termine em uma semana. Para emergências, os usuários podem ligar para o telefone 0800 2828 664, conclui a nota.

Na Rua Alice, um pedaço da história da cidade precisa de atenção

Com status de ser o mais antigo da cidade, o Túnel da Rua Alice, com 229 metros de extensão, não tem a atenção que merece. Construído e inaugurado entre 1886 e 1887, a via já ligava as zonas Sul e Norte quando a população ainda não contava com os túneis Rebouças e Santa Bárbara.

O Túnel da Rua Alice liga o Cosme Velho ao Rio Comprido e funciona em sistema de mão dupla, o que significa risco aos motoristas, já que não há qualquer sistema de separação das pistas nem mureta central nem faixa de separação pintada na pista.

A sorte é que, atualmente, o movimento do túnel é pequeno. Mas, mesmo assim, é perigoso. Quem não conhece pode achar que ele tem duas pistas no mesmo sentido. Mas não. É uma pista em cada direção. Se você se distrair pode se surpreender com um outro veículo vindo de frente diz a dona de casa Maria Aparecida Gomes, que mora nas proximidades.

A galeria é bem iluminada, mas os motoristas correm um outro risco: as paredes e o teto são revestidos em pastilhas, que apresentam desplacamento em diversos pontos do túnel.

Outro problema são os fios que ficam aparentes e pendurados em alguns pontos da galeria, como no trecho onde existe uma espécie da caixa de luz, que está aberta, sem qualquer proteção.

Além dos veículos, o túnel é usado também por pedestres. Nesse quesito, no entanto, não perde pontos, pois o caminho para quem passa a pé tem guarda-corpo. O dispositivo garante a segurança dos pedestres em todo o trajeto nos dois sentidos da pista.

Costumo atravessar o túnel e não sinto medo mesmo quando os carros passam em velocidade porque a passagem de pedestres fica mais alta. Nunca vi ou soube de algum acidente com pedestre. Eu só acho que o Túnel da Rua Alice merecia receber um cuidado maior por parte do serviço de conservação da prefeitura completa a moradora.

No Túnel da Frei Caneca, infiltrações

Não muito distante dali, o Túnel Martim de Sá, conhecido popularmente como Túnel da Frei Caneca, é outra via onde os motoristas compartilham o espaço com os pedestres, cujo caminho é protegido por guarda-corpo.

Inaugurado na década de 70, com 350 metros de extensão, o Martim de Sá convive com o problema crônico de inúmeras infiltrações. A deficiência, porém, que já foi pior no passado. Atualmente, o túnel sofre mais com outros problemas, como a falta de placas que indiquem o limite de velocidade na galeria. Além disso, a via precisa de pintura de faixas nas laterais das pistas de rolamento.

Avaliação do Crea

Túnel Rebouças: tem sinalização vertical, graduação de luz, monitoramento por câmeras e reboque. Mas peca pelas placas com letras pequenas.

Linha Amarela: os túneis da via expressa contam com telefone de emergência e refúgio.

ZuZu Angel: é longo e não tem exaustores ou telefones de emergência. Faltam radares e sinalização vertical. A iluminação é boa e a fiação está protegida.

Noel Rosa: fica na lista dos piores, com certeza. Mal sinalizado, tem buracos no asfalto, infiltrações em toda a extensão e fios soltos.

Joá: outro túnel muito ruim. Tem sinais de corrosão em suas galerias, com risco de queda de reboco, além de manter um sistema precário de iluminação.