Eike Batista reapresenta projeto de revitalização para a Marina da Glória

13/01/2013 - O Globo

No lugar dos 45 mil metros quadrados de área construída, ele agora sugere ocupar 20 mil metros quadrados Assim como o anterior, o projeto já cria polêmica

Emanuel Alencar

Controverso. A Marina da Glória poderá ter sua área ampliada caso o novo projeto para o local seja aprovado pelo Iphan. Mesmo em versão simplificada, ele causa polêmica: moradores e arquitetos temem descaracterização do espaço Custódio Coimbra / O Globo

RIO Um ano depois de desistir de um projeto de reestruturação da Marina da Glória, o empresário Eike Batista tenta aprovar um novo plano com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A proposta é uma versão simplificada da anterior: no lugar dos 45 mil metros quadrados de área construída, ele agora sugere ocupar 20 mil metros quadrados.

Assim como o anterior, o projeto já cria polêmica. De um lado estão moradores da região e arquitetos, que temem a descaracterização do parque; do outro, a prefeitura e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ), que defendem o projeto por acreditar que ajudará a desenvolver o turismo na cidade.

Construção de prédio é mantida

A decisão de liberar ou não o projeto será da direção nacional do Iphan em Brasília (o órgão precisa ser consultado porque a Marina da Glória integra o Parque do Flamengo, que é tombado). Em 2011, a proposta original havia sido aprovada pela superintendência do instituto no Rio em meio a críticas de urbanistas. Eles julgavam que o plano descaracterizaria o Parque do Flamengo, podendo inclusive interferir na observação do Morro Cara de Cão. Na época, também houve questionamentos sobre a liberação do projeto sem autorização do conselho consultivo do Iphan. Em meio à polêmica, Eike acabou desistindo de levá-lo adiante, em dezembro daquele ano.

Só vou fazer ali o que a sociedade permitir. Jamais faria algo diferente declarou Eike Batista, na ocasião.

A exemplo da versão anterior, o projeto remodelado foi desenvolvido pelo escritório do arquiteto Luiz Eduardo Índio da Costa. Pelo cronograma original, a ideia era que a obra fosse concluída até a Copa do Mundo de 2014. Índio não sabe se haverá tempo para cumprir esse prazo, mas ressalta que é importante que fique pronta até os Jogos Olímpicos de 2016, quando a Marina da Glória receberá as provas da vela.

O que apresentamos agora é uma versão simplificada. Nós reduzimos as vagas de estacionamento, e o enrocamento não será feito. Mas foi mantida a construção de um prédio que chegará a 15 metros de altura, assim como os espaços destinados a lojas e ao turismo náutico explicou Índio da Costa.

O secretário do Conselho Comunitário da Glória, Jorge Mendes, diz que os moradores da região são contrários a qualquer iniciativa que amplie a área edificada da Marina da Glória. Ele observou que a área de 20 mil metros quadrados prevista para as construções no atual projeto ainda é cinco vezes maior do que a prevista no plano original do Parque do Flamengo, assinado em 1965 pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy.

Qualquer ampliação da Marina descaracterizará o Parque do Flamengo. Se, no tamanho atual, eventos realizados no local causam transtornos, imagine com a ampliação. Esperamos que o Iphan atenda os desejos dos moradores disse Mendes.

Prefeito apoia projeto

O fato de o atual projeto ter sido enviado ao Iphan sem uma apresentação prévia, em audiência pública, também é questionado. Vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-Rio), Pedro da Luz ressalta que a consulta é fundamental porque a Marina da Glória é uma concessão pública da prefeitura.

Um projeto dessa envergadura tem interesse público e deveria ter a maior publicidade possível, para suscitar um debate em que a população possa opinar afirmou Luz.

O presidente da ABIH, Alfredo Lopes, enfatiza que a proposta para a Marina da Glória já foi apresentada por Eike, e o que se discute é uma versão mais simplificada, com menor impacto.

O projeto prevê a construção de um novo centro de convenções, o que é importante para a cidade. Hoje, 68% dos hotéis estão na Zona Sul, enquanto o Riocentro fica na Barra da Tijuca. O deslocamento de um lugar para o outro pode levar uma hora e meia. Existe uma demanda pelos congressos na cidade, que deve crescer com a reinauguração do Hotel Glória, em reforma pelo grupo EBX aposta Lopes.

O prefeito Eduardo Paes disse que conhece e apoia a nova proposta da Marina da Glória:

A prefeitura já aprovou o projeto, que é uma versão simplificada do anterior. Agora, estamos esperando o Iphan se manifestar.

O Iphan ainda não se pronunciou.

A ausência de informações públicas chamou a atenção do Ministério Público Federal (MPF), que há 18 anos acompanha a discussão de projetos que alteram a Marina da Glória. O monitoramento começou em 1995, quando a prefeitura do Rio transferiu a administração da área à iniciativa privada. A procuradora da República Gisele Porto, responsável pela área de patrimônio e meio ambiente do MPF, pretende marcar audiências para discutir o projeto assim que voltar de férias, em fevereiro. Proprietários de embarcações que pagam mensalidades à Marina da Glória reclamam da falta de informações. A preocupação é que as mudanças acabem com as 250 vagas secas de embarcações aquelas reservadas em áreas terrestres e até mesmo prejudique a realização dos esportes olímpicos.

O que ouvimos foi que o projeto não prevê vagas para embarcações de pequeno e médio portes no pátio seco. A rampa de acesso à água, hoje existente, também seria extinta disse o dono de um dos barcos, que pediu para não ser identificado.

Andréa Redondo, presidente do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural de 2001 a 2006, ressalta que o Parque do Flamengo tem características especiais que devem ser preservadas. Ela lembrou que, antes dos Jogos Pan-Americanos de 2007, um projeto para a Marina da Glória foi rejeitado por descaracterizar o espaço.

Durante quase dez anos, o Iphan e os administradores da Marina da Glória se envolveram numa queda de braço para tentar viabilizar projetos para o lugar. Um deles previa, entre outras intervenções, a construção de um píer para atracação de embarcações na Baía de Guanabara, que, na avaliação dos técnicos do Iphan, causaria impactos urbanísticos e ambientais ao prejudicar a observação do Pão de Açúcar. A Justiça Federal acabou proibindo a execução do projeto numa ação movida pelo Iphan. Na época, o Grupo EBX não controlava a Marina.

Temos que ficar de olho para ver se desta vez a proposta também desvirtua o uso da área, cuja característica principal é ser pública ponderou Andréa.

Obras na rede de esgoto

Em meio à polêmica, a Cedae e o Grupo EBX anunciam oficialmente nas próximas semanas o início das obras para a construção de uma galeria para eliminar o despejo de esgoto na Marina. Ao todo, serão implantados oito quilômetros de tubulações, que vão recolher os detritos provenientes de ligações clandestinas nas redes de águas pluviais. O material será desviado para o emissário submarino de Ipanema. Segundo o presidente da Cedae, Wagner Victer, o Grupo EBX dividirá com a estatal os custos da obra.

A rede terá oito quilômetros e inclui a construção de uma nova elevatória na Rua do Russel. Devemos concluir a obra em 60 dias adiantou Victer.

Justiça suspende licença ambiental

O projeto que prevê a construção de um novo autódromo internacional em Deodoro, com inauguração marcada para 2015, sofreu na última sexta-feira uma derrota na Justiça. A juíza Simone Lopes da Costa, da 10ª Vara de Fazenda Pública, concedeu liminar, a pedido da promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público, suspendendo o licenciamento ambiental do empreendimento. A magistrada aceitou a tese do MP de que, uma vez que o empreendimento está projetado numa área de preservação ambiental, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) jamais poderia ter autorizado o projeto sem a apresentação prévia de um Estudo de Impacto Ambiental (Eia-Rima).

O novo autódromo está projetado para um terreno de dois milhões de metros quadrados, vizinho ao futuro Parque Radical dos Jogos Olímpicos, onde serão disputadas as provas de canoagem slalom, mountain bike e ciclismo BMX. A ideia é que a instalação fique como legado do evento.

A área escolhida para substituir o Autódromo de Jacarepaguá, demolido para dar lugar ao futuro parque olímpico, enfrenta ainda outros problemas. Como o terreno foi ocupado por paióis que explodiram num acidente em meados do século passado, o local passa, há meses, por varreduras que tentam localizar explosivos que eventualmente não tenham sido detonados. O Exército não tem prazo para liberar a área. Mas o Ministério do Esporte, que financiará o projeto, garante que as obras começam no segundo semestre deste ano.