Centro da cidade dá pedal

11/08/2013 - O Globo

Reduto de escritórios e órgãos públicos, para onde se dirigem diariamente milhares de trabalhadores, o Centro do Rio é basicamente um endereço comercial. Mas ainda não faz parte do circuito de cariocas que poderiam usar a bicicleta para ir de casa ao trabalho e vice-versa. Não é para menos. A região é uma das mais malservidas por ciclovias, apesar de a cidade ter a maior malha cicloviária do país e a segunda maior da América Latina.

De carona no assunto até o ano passado, duas organizações da sociedade civil e um laboratório avançado da Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação da Universidade de Columbia resolveram assumir a direção do processo e mapear a demanda de ciclovias nos arredores. Para isso, adotaram uma metodologia participativa que inclui o diálogo com ciclistas e demais indivíduos interessados na expansão dessa infraestrutura, além da contagem do número de bikes que rodam pela região. Estão chegando lá, segundo Altamirando Moraes, subsecretário municipal de Meio Ambiente:

- Trabalhamos em conjunto com grupos ligados a ONGs, como Transporte Ativo e ITDP (Instituto de Políticas Públicas de Transporte e Desenvolvimento, na sigla em inglês). Aprovamos o projeto, que integra as zonas Norte e Sul. Agora, precisamos de recursos para viabilizá-lo. O Porto está recebendo um investimento muito grande e focado em sustentabilidade. Esse é um projeto que cabe bem como contrapartida.

A prefeitura, que tem a bandeira "Rio, capital da bicicleta" e 304 quilômetros de malha cicloviária, quer chegar a 450 quilômetros até 2016, entrando para o ranking das dez maiores cidades do mundo em ciclovias. Hoje, estamos em 13º lugar. Até 2009, não estávamos nem entre as 80 primeiras.

O caminho a ser percorrido em segurança sobre duas rodas no Centro terá 33km, sendo 17km já garantidos pelo projeto do Porto Novo. O custo é de R$ 6 milhões. Mas, embutido em outras obras de infraestrutura, cairia para R$ 600 mil, segundo José Lobo, presidente da Transporte Ativo. Com infraestrutura, o número de ciclistas na região pode triplicar. Hoje, não há ciclovia no Centro.

- Hoje existem prontos os projetos da ciclovia do Museu de Arte Moderna (MAM) à Praça Mauá, e outro ligando as praças Quinze e Saens Peña, mas que ainda não sairam do papel desde os anos 90.Elas e o novo trecho do porto são as chamadas rotas olímpicas. Mas até hoje não há integração com outros meios de transporte ou interligação com zonas Norte e Sul. E, mesmo assim, contabilizamos cerca de três mil pessoas pedalando por lá diariamente desde que, em junho de 2012, resolvemos levantar o que acontece na região. Fizemos contagem e fotografamos todos esses ciclistas. Através das redes sociais, contatamos e ouvimos quem pedala no Centro e pessoas que estudam mobilidade. Foi um ano de coleta de dados e discussões - explica Zé Lobo".

Como observa o arquiteto Pedro Rivera, diretor do Studio X, da Universidade de Columbia, no Centro estão sendo tocados grandes projetos de mobilidade, como o VLT (R$ 1,2 bilhão), o BRT (R$ 1,5 bilhão) e o metrô para a Barra (R$ 8,5 bilhões):

- São todos transportes de massa em macroescala. Nossa proposta é uma estrutura de microescala para deslocamentos dentro da própria região. Uma rota Central-Cinelândia pode ser feita em dez minutos, por exemplo.
Numa contagem para o projeto Ciclorrotas, chegou-se a 3.186 ciclistas em apenas cinco pontos do Centro, em 12 horas. Desses, 40% faziam entregas. Só 3% desses ciclistas eram mulheres.

- Se a infraestrutura melhorar, o número de mulheres pedalando no Centro também aumenta. Como em Copacabana, onde houve um aumento de 134% em três anos - diz Lobo.

A jornalista Maria Augusta Seixas, de 42 anos, desde o ano passado, encara um trajeto de 20 minutos sem ciclovia de casa, em Laranjeiras, até o trabalho, na Av. Chile. E já sofreu uma tentativa de assalto que a derrubou no chão e a fez mudar de rota. Mas não de meio de transporte.

- Hoje, uso calça com reforço no joelho, blusa sempre clara, tênis, capacete e luvas. Escondo os documentos e cartões - diz.
Há cinco anos, o analista de sistemas Ramon Nogueira pedala meia hora na rota Maracanã-Centro de bike, também sem passar por ciclovias e participou do trabalho como voluntário:

- Vou seguindo o caminho natural dos carros pelas bordas da esquerda.
Vice-diretora do ITDP, a mestre em políticas sociais Clarisse Linke destaca que o Bike Rio já contabiliza 1,5 milhão de viagens.

- O Bike Rio tem hoje 58 estações, basicamente na Zona Sul (exceto três em Madureira e duas no Centro). Na próxima licitação, serão 260 pontos no total, sendo 70 só no Centro.