Nova Estação Uruguai do metrô e pacificação elevam em 30% o preço de imóveis

03/04/2014 - O Globo

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RIO — São 8h30m e a Estação Uruguai do metrô, na Tijuca, está lotada. Construída no pátio de manobras que ficou conhecido como "rabicho da Tijuca", a nova plataforma realizou um sonho antigo do tijucano. A proximidade do metrô, num momento em que a cidade está repleta de obras por todos os lados, combinada com os efeitos da pacificação das favelas da região, contribuiu para a valorização de imóveis em até 30% naquele trecho da Tijuca. A mudança já foi sentida na rotina do morador, que ganhou mais tempo no seu dia a dia, e do comércio, otimista em relação ao aumento das vendas.

Desde a inauguração da Estação Uruguai, no dia 15 de março, o aposentado Eduardo Rodrigues Silva procura um apartamento nos arredores de uma das cinco saídas do metrô. Morador da Rua Henrique Fleiuss, na Tijuca, ele optou por vender o carro e só utilizar transporte público:

— Era o que faltava no bairro. Eu moro no alto de uma ladeira e tinha que pegar o ônibus de integração até o metrô. Agora que a estação foi inaugurada, quero morar mais perto.

A procura por um apartamento em ruas como Uruguai, Dona Delfina, Itacuruçá, José Higino e Andrade Neves já pode ser sentida no preço do imóvel. Dados do Sindicato de Habitação (Secovi-RJ) mostram que o metro quadrado aumentou de R$ 5.448 para R$ 7.280, uma variação de 33,6%, entre 2012 e 2014.

Apesar de o bairro como um todo ter se valorizado devido à instalação das UPPs, um olhar mais atento mostra que o metro quadrado da Rua Uruguai teve uma variação de 33%. Já a Avenida Maracanã — outro endereço cobiçado, devido à urbanização no entorno do estádio que sediará a final da Copa do Mundo — foi de 30,6%.

— A questão de acesso hoje é um fator crítico. Eu diria que vem logo após a segurança. A proximidade de uma estação do metrô é considerada um atrativo. E isso funciona como efeito cascata. Todos os que estão ao redor são beneficiados de alguma forma, ainda mais nesse momento em que a cidade está cercada por canteiros de obras — diz Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi.

Vice-presidente da Ademi, Rogério Zylbersztajn afirma que a valorização naquele trecho da Tijuca foi de 27%. A UPP, segundo ele, teve um papel fundamental na revitalização da Tijuca, mas a proximidade do metrô também contribuiu:

— As pessoas querem mobilidade urbana, querem poder deixar o carro em casa. Essa é a vantagem de morar próximo do metrô.

Quem tinha planos de se mudar do bairro antes da chegada do metrô acabou desistindo da ideia. Esse é o caso da aposentada Bárbara Domingues, que pretende continuar na Rua Andrade Neves:

— Foi uma notícia maravilhosa. Minha filha mora no Leblon, e a distância até a casa dela encurtou. Vou de metrô até Ipanema e de lá pego um ônibus. Quando inaugurarem a estação do Leblon, vai ser perfeito.

Vinícius Domingues, advogado e aluno da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro, no Centro, é outro que se beneficiou do metrô. Ele conta que economiza 40 minutos de seu dia:

— Já tinha tentado ir ao Centro de duas formas: de ônibus ou de metrô, com a integração até a Praça Saens Peña, que estava sempre insuportável de tão cheia. Hoje gasto 20 minutos a menos na ida e na volta.

Ele é um dos 21 mil usuários que utilizam diariamente a Estação Uruguai do metrô. Destes, segundo a concessionária Metrô Rio, 15 mil já usavam o transporte, embarcando na Saens Peña. Outros seis mil foram incorporados ao sistema após a nova estação. Nos arredores, o clima é de otimismo. Maria Luiza Saldanha, gerente de uma loja Kalunga, inaugurada em janeiro, considera a abertura do metrô "um presente":

— Já podemos sentir um aumento das vendas, principalmente no horário de saída do trabalho, quando as pessoas deixam a estação e dão de cara com a loja.

Um dos pioneiros na revitalização daquele trecho da Tijuca, o empresário Ottmar Grunewald, que recentemente abriu o Café Otto ali, acredita que as vendas vão aumentar.

— Sou do tempo em que a área era repleta de moradores de rua. O metrô representa uma mudança de hábito do carioca. Na Tijuca, as ruas estão cheias, e a frequência melhorou. Ele veio nos atender, até com um certo atraso.

Assim como Ottmar, muitos moradores da Tijuca duvidaram que o "rabicho" seria transformado numa estação do metrô. Seu traçado até a Saens Peña, de apenas um quilômetro, já tinha sido parcialmente escavado em 1982. Desde então, apesar de o projeto não ter sido concebido com esta finalidade, não faltaram propostas de ocupação para o lugar.

— Cada hora falavam uma coisa. Ninguém acreditava em mais nada. Já disseram que ali ficaria a conexão com o metrô da Gávea! Quando anunciaram as obras da Uruguai, foi uma surpresa — diz o aposentado Cleider Pinto, de 79 anos