Vazio, Edifício Serrador permanece à espera de quem possa pagar R$ 3 milhões por mês

Um dos símbolos da era de ouro da Cinelândia está de portas fechadas. Empresas do Grupo EBX ocupavam os 23 andares

POR GABRIELA LAPAGESSE

27/09/2014 - O Globo

Uma tela cobre o painel da entrada principal: manifestação em outubro deixou oito vidros quebrados - Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — O imponente edifício Francisco Serrador, localizado na Rua Senador Dantas e um dos símbolos da era de ouro da Cinelândia, está de portas fechadas desde fevereiro deste ano, quando seu único inquilino, o empresário Eike Batista, interrompeu um contrato de cinco anos, após ocupar seus 23 andares com as empresas do Grupo EBX por dois anos. Desde então, estão sendo aguardadas propostas de empresas que se disponham a pagar R$ 3 milhões mensais pelo aluguel dos 18.300 metros quadrados do prédio. O proprietário do Serrador, José Oreiro, também dono da rede hoteleira Windsor, não tem interesse em alugá-lo para mais de um inquilino. Tampouco pensa em vender o imóvel, construído na década de 1940. Enquanto um novo contrato não é fechado, a entrada principal segue tomada por tapumes, e a frente envidraçada permanece coberta por uma tela.

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Inaugurado em outubro de 1944 como hotel, seu nome foi uma homenagem ao empresário espanhol Francisco Serrador, dono de várias salas de cinema na então capital federal. Com vista para o Pão de Açúcar, o Hotel Serrador tinha ainda como atrativo a boate Night and Day, frequentada por políticos, artistas e jornalistas. Mas, com a mudança da capital para Brasília e a decadência da Cinelândia, o hotel acabou fechando as portas em 1970. Funcionário há 40 anos do vizinho Edifício Odeon, que abriga o último cinema da região, o porteiro Luís Carlos dos Santos se lembra com carinho dos áureos tempos daquela parte do Centro da cidade.

— Ah, não dá para comparar aquela época com agora. Antigamente, a região era bem movimentada, ficava repleta de artistas, pessoas importantes. O Odeon vivia cheio. Até a noite era bem mais movimentada. Agora, os grandes empresários saíram daqui. Os aluguéis estão muito caros e o Centro está inseguro demais, com muitos mendigos — lamenta.

HOTEL DÁ LUGAR A CENTRO EMPRESARIAL

Em 2003, José Oreiro comprou o velho prédio com o objetivo de reformá-lo e reinaugurar o hotel. Porém, com a chegada de novos grupos hoteleiros ao Centro, o empresário resolveu transformá-lo em um edifício comercial e alugá-lo para grandes empresas. Em 2009, com a obra finalizada, Oreiro uniu sua empresa, a Windsor Offices, à Sotheby's International Realty, responsável pela comercialização, e à Office International Realty, consultora imobiliária, para lançar o centro empresarial, que, no processo de modernização, ganhou até um heliponto. Em 2010, o então bilionário Eike Batista alugou o prédio para instalar as empresas do Grupo EBX. Ismael Cardoso, um dos porteiros do edifício, conta que a chegada do empresário, cuja sala — a mais espaçosa de todo o imóvel — ficava no 22º andar, causava um certo alvoroço diariamente.

— Ele chegava sempre por volta das dez horas da manhã e costumava sair às oito da noite. Era educado, mas não dava abertura para a gente ficar conversando, não. Chegava sempre com os seguranças, e isso deixava essa parte aqui do Centro um pouco mais movimentada — lembra Ismael, que trabalha há três anos no local.

No primeiro andar, onde fica o auditório, ainda é possível encontrar cartazes da EBX e materiais há pouco tempo ainda usados em palestras e conferências. Segundo Raul Correa, sócio da Office International Realty, que intermediou a negociação entre José Oreiro e Eike Batista, o contrato de locação foi assinado em 2010.

— O valor mensal ficou acertado em R$ 2,3 milhões por mês. Depois da assinatura do contrato, começou a ser feita a mudança, que demorou cerca de um ano. As empresas de Eike Batista ocuparam o prédio por pouco mais de dois anos — diz Correa, que avalia o prédio para venda em cerca de R$ 300 milhões.

A derrocada das empresas do Grupo EBX obrigou o empresário a sair do endereço histórico. A mudança, iniciada em outubro do ano passado, foi finalizada em fevereiro deste ano. O proprietário do Serrador não quis se pronunciar sobre eventuais dívidas remanescentes do rompimento do contrato de locação, que vigoraria até 2015.

HOJE, 20 PESSOAS TRABALHAM NO PRÉDIO

Representantes da Cushman & Wakefield, que atualmente presta consultoria imobiliária para José Oreiro, informaram que há cerca de 20 funcionários trabalhando hoje no edifício, entre porteiros e seguranças, que se revezam em turnos de 12 horas. De acordo com a consultora, o prédio está pronto para ser ocupado. Cada andar possui 770 metros quadrados, sendo que três andares, entre eles o primeiro, têm área de 1.100 metros quadrados. A cobertura, de pouco mais de 400 metros quadrados, é equipada com uma cozinha industrial.

Segundo a Cushman & Wakefield, os tapumes e a tela foram instalados com o objetivo de proteger o prédio. Em outubro do ano passado, uma manifestação ocorrida na Cinelândia deixou como saldo oito vidros quebrados. Coube ao antigo inquilino a substituição dos vidros, mas o valor gasto não foi divulgado. Ainda conforme a Cushman & Wakefield, a proteção só será retirada quando outro grupo empresarial vier a ocupar o espaço. A consultora imobiliária afirma que o edifício tem recebido propostas para locação e que, só na semana passada, cinco representantes de grandes empresas teriam estado no Serrador para conhecer melhor suas instalações. Uma multinacional já estaria até mesmo formalizando uma proposta, e o acordo poderia ser fechado em até três meses, com ocupação prevista para o próximo ano.