Prefeitura transfere vila de acomodações dos Jogos para conjunto do Minha Casa Minha Vida

24/11/2014 - O Globo

Os prédios estão sendo construídos na Estrada do Engenho d'Água, no Anil

POR ISABELA BASTOS

O terreno no Anil, na Baixada de Jacarepaguá, já transformado num gigantesco canteiro de obras: futura Vila Carioca abrigará 66 prédios destinados a árbitros, jornalistas e outros funcionários da Rio 2016 - Agência O Globo / Pedro Kirilos

RIO - A vila de acomodações das Olimpíadas de 2016, prevista para ser construída na Zona Portuária, atravessou a cidade e está sendo erguida pela prefeitura a 25 quilômetros de distância no bairro do Anil, na Baixada de Jacarepaguá. Batizada de Vila Carioca, o empreendimento terá 66 prédios de cinco andares, num total de 1.320 unidades habitacionais de 45 metros quadrados cada. Com 2.640 quartos, é a maior das cinco vilas que serão usadas durante os Jogos. No total, os cinco complexos terão 8.314 quartos destinados aos árbitros, jornalistas e à força de trabalho da Rio 2016.

Os prédios estão sendo construídos dentro do programa Minha Casa Minha Vida, num terreno de 43 mil metros quadrados na Estrada do Engenho d'Água, desapropriado pela prefeitura por R$ 19 milhões. Na área, funcionava parte de um antigo centro de distribuição de bebidas. Após os Jogos, os apartamentos serão destinados a moradores retirados de áreas de risco e de locais onde obras públicas de infraestrutura exigiram remoções. No Anil, a obra segue em ritmo acelerado: quatro apartamentos são montados diariamente. Enquanto isso, no Santo Cristo, o projeto Porto Vida Residencial entra no sexto mês de obras paradas. Retirado do projeto olímpico, ele segue sem data para ser retomado, transformado num esqueleto de concreto.

Já no terreno no Anil, o entra e sai de caminhões é frenético. Cerca de 200 operários trabalham no local, e a previsão é que sejam 450 em janeiro, quando deverá começar o pico da obra, com oito apartamentos montados por dia. O objetivo é que os prédios, que deverão custar R$ 99 milhões, fiquem prontos até novembro de 2015, para serem entregues ao comitê organizador dos Jogos. Na semana passada, três deles estavam com as estruturas prontas para receber os telhados e acabamentos internos. Um quarto bloco estava no terceiro pavimento.

A imensa área é delimitada pela Estrada do Engenho D'Água, pela Avenida Canal do Anil e pela Estrada de Jacarepaguá. Para chegar à Barra, os caminhos possíveis são, por um lado, a Avenida Geremário Dantas, a Linha Amarela e as avenidas Ayrton Senna e Embaixador Abelardo Bueno. Por outro, as estradas de Jacarepaguá e do Itanhangá, passando por dentro de Rio das Pedras e saindo na Barrinha. A pouco mais de um ano e meio dos Jogos, as ruas e avenidas que contornam a área da vila são estreitas e muito movimentadas. E o Canal do Anil não é uma visão agradável. Ele exala forte odor de esgoto. O assoreamento e a poluição do canal são evidentes.

O prefeito Eduardo Paes argumenta que a troca da Zona Portuária pelo Anil obedeceu a critérios econômicos e urbanísticos. No Porto, diz ele, o comitê Rio 2016 teria que pagar ao consórcio construtor uma taxa de uso pelas instalações, que ficariam reservadas aos Jogos por meses, sendo entregues aos proprietários apenas em 2017. No Anil, esse aluguel não seria necessário, uma vez que o condomínio do Minha Casa Minha Vida já estava nas previsões da prefeitura para receber moradores hoje em regime de aluguel social.

- O terreno já estava desapropriado. A área escolhida está degradada e precisa de investimentos. Ao levar a vila para lá, isso obriga o município a fazer investimentos em acessos, por exemplo. A ideia é trazer melhorias para uma área da cidade que não está resolvida. O Porto já está resolvido urbanisticamente. Não precisa mais de indutor governamental para deslanchar - afirma Paes.

Em 2010, interessado em levar para o Porto um empreendimento que ajudasse, pela envergadura, a ancorar novos empreendimentos para a região, Paes convenceu o Comitê Olímpico Internacional a aprovar a construção de parte das vilas de acomodações num terreno conhecido como Praia Formosa, atrás da Rodoviária Novo Rio. Batizado inicialmente de Porto Olímpico, o residencial foi alvo de um concurso de projetos, promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). O projeto vencedor previa sete prédios, com 1.333 apartamentos. Um dos edifícios teria 40 andares e seria o residencial mais alto do Rio. Este ano, já sem a chancela olímpica, as obras foram paralisadas em junho. A construtora Odebrecht informou, por intermédio de sua assessoria, que ainda não tem data para retomar as obras, que passam por readequação financeira.

- Lá atrás, quando decidimos levar a vila para o Porto, ainda não tínhamos viabilizado a operação urbana consorciada que está permitindo a revitalização. A gente precisava de indutores, de projetos catalizadores. Mas hoje, o Porto não precisa mais desse ativismo estatal. Construir no Anil tem mais impacto em termos de legado para a cidade. Já soubemos que uma construtora quer erguer um shopping ao lado da vila no Anil - acrescentou o prefeito.

Segundo o secretário municipal de Habitação, Pierre Batista, embora o projeto da vila tenha sofrido modificações, o cronograma de entrega do conjunto até o fim de 2015 será mantido. Pierre admite que o serviço, que começou em agosto passado, está sendo ligeiramente acelerado para caber no prazo olímpico:

- Está tudo dentro do cronograma. A obra será feita em 14 meses. Normalmente, um conjunto habitacional desse tamanho fica pronto em 16 ou 18 meses. Mas o Parque Carioca, por exemplo, na Estrada dos Bandeirantes, que recebeu o pessoal da Vila Autódromo, entregamos em 12 meses.

Enquanto as melhorias urbanísticas no entorno do terreno do Anil continuam no plano das ideias - segundo a Secretaria municipal de Obras, as intervenções estão sendo planejadas - na área da obra, a Riourbe começa a erguer uma creche, uma escola e uma Clínica da Família. As unidades escolares terão capacidade para 1.140 crianças A previsão é que os equipamentos públicos estejam prontos em dezembro de 2015.

Das outras quatro vilas de acomodações que já estavam previstas, três são empreendimentos de alto padrão, com 4.450 apartamentos de 51 a 157 metros quadrados e clubes de serviços. Elas estão sendo construídas pela iniciativa privada, no Camorim e no Pontal, na Zona Oeste. Em páginas especializadas na corretagem de imóveis na internet, as unidades estão sendo vendidas a partir de R$ 500 mil. A entrega dessas obras está estimada para dezembro de 2015. A quarta será a Vila Verde, com 1.224 quartos, construída para os Jogos Mundiais Militares de 2011, dentro do Complexo Esportivo de Deodoro. Ela será aproveitada nas Olimpíadas.

Das cinco vilas, quatro serão usadas para abrigar parte dos 25 mil jornalistas credenciados, além dos árbitros das competições, o staff da Rio 2016 e funcionários que trabalharão nas instalações olímpicas. Todas as vilas oferecerão serviços de hotéis três estrelas e os valores de hospedagem seguirão esse padrão. Enquanto a pressa dita o ritmo no Anil, no Santo Cristo a única movimentação de obra é ao lado do esqueleto do Porto Vida, no hotel Holiday Inn Porto Maravilha, com 594 quartos. Iniciada em janeiro, a construção está com 40% das estruturas concluídas. Nos Jogos, até 90% dos quartos serão colocados à disposição do Comitê Rio 2016.

NÚMEROS

66 prédios - Total de imóveis residenciais da Vila Carioca, empreendimento do programa Minha Casa Minha Vida, no Anil.

1.320 unidades - Total de apartamentos que o conjunto terá. Ali, serão hospedados jornalistas, árbitros e outros profissionais que vão atuar durante os Jogos.

R$ 99 milhões - Valor estimado da vila, prevista para ficar pronta em novembro do próximo ano. A prefeitura informa ter pago R$ 19 milhões pelo terreno, onde acontece a obra.