O Centro da cidade... na Barra

Shopping Metropolitano, na Abelardo Bueno, se prepara para abrir as portas no início de dezembro e marca o início do Centro Metropolitano, um grande espaço empresarial planejado por Lucio Costa em 1969

24/11/2013 - O Globo

POR CLARISSA PAINS

Shopping Metropolitano, ainda em construção, é o primeiro grande empreendimento do Centro Metropolitano da GuanabaraFoto: Felipe Hanower
Shopping Metropolitano, ainda em construção, é o primeiro grande empreendimento do Centro Metropolitano da Guanabara
Foto: Felipe Hanower

RIO — A poeira ainda subia e uma lama de terra avermelhada sujava os calçados de quem trabalhava no canteiro de obras do Shopping Metropolitano quando, com exclusividade, O GLOBO-Barra visitou o espaço, dias antes da inauguração, marcada para 5 de dezembro. Ocupando 45 mil m² na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, o empreendimento faz parte do Centro Metropolitano da Guanabara — uma área de quase cinco quilômetros quadrados, ou cerca de 10% da Barra —, concebido pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa em 1969 para ser o novo Centro da cidade. O shopping é o filho primogênito a nascer. Em seguida, virão o hotel Hilton e prédios empresariais.

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VÍDEO Bastidores da construção do Shopping Metropolitano
Resultado de uma parceria entre a Cyrela Commercial Properties (CCP) e a Carvalho Hosken, o shopping chegou a ter sua abertura anunciada para esta terça-feira, mas um problema com o fornecimento de energia elétrica adiou-a. Entre as novidades que a construção traz, duas saltam aos olhos. A primeira é um jardim vertical, de 1.600m², vista inclusive por quem passa de carro pela Abelardo Bueno. É a segunda maior parede verde do mundo, de acordo com registros do Guinness. Só perde para uma dos Emirados Árabes, erguida em março, com pouco mais de 2 mil m². Outro diferencial são quatro painéis que circundam a praça de alimentação, retratando as Zonas Oeste, Norte e Sul e a Baía de Guanabara. Todos foram desenhados pela artista plástica francesa Dominique Jardy, radicada no Rio há 29 anos e responsável por quadros pictóricos de Copacabana Palace, Marriot, Windsor e outros grandes hotéis.

— Esta é a primeira vez que meu trabalho é usado dentro de um shopping — conta Dominique, que levou três meses para aprontar as obras.

A artista pintou telas que foram fotografadas, reproduzidas em maior escala e transformadas em grandes painéis, de dez metros de altura cada um, colados à parede. O conjunto panorâmico tem, ao todo, 134 metros de comprimento.

— Para pintar os quadros, eu me posicionei no alto do Morro dos Queimados, que é um ponto mais ou menos central da cidade, de onde dá para ver bastante da Zona Norte, da Zona Sul e da Zona Oeste. De lá, eu vejo a Pedra da Gávea e o Corcovado, o Maracanã, a Vista Chinesa, a Floresta da Tijuca, o início da Barra. E, como o Rio não tem uma Zona Leste, retratamos este lado com a Baía de Guanabara — explica ela, que, junto com a equipe do GLOBO-Barra, viu pela primeira vez, na segunda-feira passada, suas obras prontas no mall. — As reproduções estão muito fiéis às telas. As cores ficaram num tom perfeito: nem apagadas, nem fortes demais.

O projeto do Shopping Metropolitano, criado pelo arquiteto Paulo Baruki, prioriza a inserção da natureza no conjunto — seja ela real, como na parede verde, ou poética, como nas telas de Dominique. O próprio desenho da construção, com muitas linhas curvas, é inspirado nas paisagens da cidade.

— O muro verde representa a montanha, e a linha curva da frente do shopping, o mar. Quis fazer o encontro dos dois, como ocorre na geografia do Rio — diz Baruki, que participou do projeto de mais de dez shoppings no Rio e de outros 30 fora do estado.

Arquitetura e decoração são mesmo destaques no mall. Uma outra bossa é o banheiro teen, todo rosa, destinado às adolescentes.

Estratégico para lojistas e clientes

Com 210 lojas, entre elas 15 âncoras e megalojas, o shopping será inaugurado com dois pisos, mas se prepara para abrir o terceiro em meados do próximo ano. Por enquanto, serão 21 lojas na praça de alimentação, no segundo piso, e quatro restaurantes com varandões: Gula Gula — que abre somente em 12 de janeiro —, Benkei Asiático, Outback Steakhouse e Delírio Tropical. Lojas de departamento como C&A e Renner se misturam a algumas consideradas classe A, como Richards e Mr. Cat.

O estacionamento tem 2.600 vagas, sendo 1.900 vagas cobertas. E ainda será possível encontrar o carro estacionado com a ajuda do celular, porque haverá pilastras com QR Code de sinalização.

Segundo o superintendente do shopping, Paulo Renato Rey, as classes A e B são o público-alvo do empreendimento, que custou cerca de R$ 350 milhões. A localização, na Abelardo Bueno, é considerada o grande trunfo para atingir a expectativa de 35 mil pessoas por dia ao longo do primeiro ano.

— Hoje, existem dois pontos estratégicos no Rio: o Porto e a interseção de Barra, Jacarepaguá e Recreio. O shopping foi construído mais ou menos na divisa entre estes três bairros, que são os que queremos atingir principalmente. E, pela proximidade com a Linha Amarela, ainda conseguiremos trazer um público da Zona Norte — aposta Rey. — A Barra já é atendida por muitos shoppings, mas nossa vantagem é que damos fácil acesso para outros bairros e ocupamos uma via que tem muitos terrenos já licenciados.

É em torno desta via que estão alguns dos principais investimentos para as Olimpíadas de 2016, como as vilas Olímpica e Paralímpica.

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— Se já houve certo esvaziamento do Centro em favor da Barra, acredito que isso vá continuar até chegar a um ponto em que a maioria das empresas de grande porte esteja aqui — ressalta ele.

Segundo Fernando Santos, diretor regional da Via Varejo, responsável pelas Casas Bahia no Rio e no Espírito Santo, a loja aberta no Metropolitano pode ser considerada a nova menina dos olhos da rede.

— Abrir uma filial na Abelardo Bueno é fundamental para o nosso negócio, porque esta é uma região com grande perspectiva de crescimento, onde se concentra um novo núcleo econômico da Barra. Estamos apostando numa linha que vai atender as classes A,B e C — diz Santos.

Para os donos da Joalheria Viseu, a ida para a Zona Oeste acompanha o movimento do público da loja, já existente em Madureira e no Centro.

— Nossa ideia é resgatar os clientes que deixaram de ir a Madureira e já não vão com tanta frequência ao Centro — conta a sócia Rosane Rocha, à frente da Viseu ao lado do pai, Valentim; do irmão, Rogério; e do primo Sérgio Martins.

As cifras mostram a confiança no potencial da região: Pedro de Lamare, do Gula Gula, por exemplo, investiu R$ 2,5 milhões na nova loja.

Jardim vertical é destaque

A parede verde erguida na fachada do shopping reúne seis espécies de plantas, entre elas bromélias e zebrinas, e é formado por 2.700 módulos (tapetes retangulares que parecem camurça, mas são feitos apenas de garrafa PET). Neles, as mudas são presas com o substrato sphagnum, que substitui a terra.

— Como não usamos terra adubada, o jardim vertical tem menos ervas daninhas. É de fácil manutenção, porque tem um sistema de microtubos de gotejamento durante todo o dia. Apenas a cada quinzena um funcionário deverá subir por rapel para limpar a parede — diz a paisagista e engenheira civil Darcy Brouck, sócia da empresa Horto das Palmeiras, responsável pelo projeto e pela tecnologia usada.

Os módulos do jardim, chamado de Garden Up, são montados na própria empresa e, depois de prontos, instalados na parede. No total, foram usadas mais de cem mil mudas para compor o projeto. Daqui a cerca de 15 dias, espera-se que as plantas já tenham tomado toda a parede, tapando o fundo preto.

— A produção desse jardim levou quatro meses. Além de ser sustentável, ele ajuda a diminuir a temperatura no interior do ambiente. E isso a baixo custo — explica a engenheira de produção Taissa Abtibol, também sócia da empresa.

Mudança de rumo

Em pleno desenvolvimento há três décadas, a Barra é, sem dúvida, o maior foco de expansão do Rio. De lá para cá, as construções ultrapassaram as tradicionais avenidas Lucio Costa e Américas, e, agora, vão ocupando a Abelardo Bueno.

Bem em frente ao Shopping Metropolitano está em construção o The City, o primeiro business district do Rio, com inauguração prevista para dezembro de 2016. Com 100 mil m², o empreendimento será um complexo multiuso, com salas comerciais, lajes corporativas, malls e centros gastronômicos.

No setor hoteleiro, uma novidade é a rede Hilton, que constrói seu primeiro cinco estrelas na cidade, um complexo formado por um prédio com 300 suítes e edifícios corporativos, a ser inaugurado em junho de 2014.

Claudio Hermolin, diretor regional da construtora PDG, aposta na valorização da avenida com as obras de infraestrutura e transporte em curso:

— A Barra é o vetor natural de crescimento da cidade, e as obras de infraestrutura favorecerão o trânsito na região. Após grande oferta de unidades residenciais, chega a vez das unidades comerciais.

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio, Sydnei Menezes, não acredita que a avenida venha a integrar um novo Centro da cidade, mas reconhece seu potencial:

— O desenvolvimento da Abelardo Bueno acontece tardiamente, porque foi planejado no Plano Piloto. Mas o uso do espaço está um pouco diferente do concebido inicialmente. Lucio Costa pensava que os órgãos públicos ocupariam o Centro Metropolitano, e não empresas privadas. Acho impossível que aquele área se torne o novo Centro da cidade, mas vai ser responsável por consolidar o atual modelo de ocupação da Barra.

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