Prédios subutilizados são pedras no caminho da revitalização do Centro do Rio

08/11/2015 - O Globo

RIO — Às margens da revitalização, gigantes em mau estado, de destino às vezes incerto. Ao longo da futura Orla Prefeito Luiz Paulo Conde, que ligará as imediações do Museu Histórico Nacional ao Porto com praças e um corredor de lazer à beira da Baía de Guanabara, alguns prédios são pedras no sapato para a nova configuração da região. O Edifício A Noite, por exemplo, ainda é um arranha-céu de 22 andares — o primeiro do país —, subutilizado e com destino indefinido, diante da Praça Mauá. Quase clamando por reforma, a antiga Maternidade da Praça Quinze também destoa do entorno em obras. E, na Gamboa, o prédio que abrigará a Hemeroteca Brasileira (biblioteca de jornais e revistas) continua sendo um galpão cinzento e ríspido.

No A Noite, os andares mais altos, que já foram casa da Rádio Nacional, salas abandonadas nem lembram o auge de décadas atrás. Escadas abaixo, ainda estão guardados arquivos do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), dono do imóvel. Mas pouca gente circula pelos corredores do grandão art déco do fim dos anos 1920, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). E, em frente aos museus do Rio (MAR) e do Amanhã, o lugar mantém ares fantasmagóricos.

— Tem gente que jura ter visto fantasmas aqui. Há até quem tenha medo — dizia um segurança na semana passada, um dos poucos que restaram trabalhando no edifício.

PROPOSTAS NÃO VINGAM

A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp) já apresentou propostas para transformá-lo em prédio residencial ou num hotel. No dia 15 de outubro, uma reunião juntou representantes do INPI e dos ministérios do Planejamento e do Desenvolvimento para debater o destino do arranha-céu. Mas, segundo o instituto, ainda não há decisão para o caso.

Seguindo em direção às proximidades da Rua do Ouvidor, a Maternidade da Praça Quinze, que já foi referência no Rio, fechou as portas há mais de dois anos. Na época, a Secretaria municipal de Saúde alegou que a unidade precisaria de "reformas estruturais e arquitetônicas, sistêmicas e profundas”. E o prédio, ao lado do Tribunal Marítimo e que já pertencia à Marinha, foi devolvido à força naval.

Perto de obras que criarão na frente do prédio uma praça corporativa e, bem próximo, uma área de lazer destinada a eventos culturais, o lugar não sofreu as tais reformas necessárias e ganhou um uso no mínimo inusitado.

— Virou um alojamento — afirmava um militar que controlava o acesso ao local.

MATERNIDADE PERTENCE À MARINHA

A Marinha, por meio de nota do Comando do 1º Distrito Naval, afirmou que o prédio está parcialmente ocupado pelo Serviço de Inativos e Pensionistas da Marinha (SIPM), mas não confirmou que teria sido transformado em alojamento. Segundo o texto, o lugar vem sendo utilizado para atendimento ao público pela organização militar, responsável pelo gerenciamento de mais de 128 mil inativos e pensionistas. Além disso, afirmou que há um projeto para que a parte não ocupada do edifício seja destinada a duas diretorias, a Geral de Navegação e a de Portos e Costas. Mas não informou sobre reformas ou prazos para que ocorram.

Já a Hemeroteca Brasileira, da Biblioteca Nacional, ficará no edifício da Avenida Rodrigues Alves 509 que, no passado, abrigou a estação de expurgo de grãos do Ministério da Agricultura. Entre a Cidade do Samba e o Aquário Marinho do Rio (em construção), próximo ao trecho final do Boulevard do Porto, a previsão é que o prédio tenha espaço para exposições, livraria, lanchonete e restaurante. Para ele também devem ser transferidos laboratórios de conservação, microfilmagem e digitalização, além de todas as áreas técnicas e administrativas da instituição. O projeto, segundo a Biblioteca, está em fase final de desenvolvimento pelo arquiteto Hector Vigliecca, vencedor de um concurso realizado ano passado pela Fundação Biblioteca Nacional e a Cdurp. Mas o prédio, que já abriga parte dos arquivos da hemeroteca, ainda mantém os ares de abandono da época da Perimetral. A maior parte está às escuras. A Biblioteca Nacional garante que as obras, financiadas pelo BNDES, já iniciaram na parte interna do armazém, com um de seus andares recebendo reforço estrutural e obras civis e de climatização. No entanto, não há prazo para conclusão do projeto.

Mais imprevisível ainda é o futuro de outro prédio nas bordas da frente marítima: o anexo da Assembleia Legislativa. Mês passado, o governador Luiz Fernando Pezão publicou decreto cedendo outro prédio, o do Centro Administrativo do Estado do Rio, conhecido como Banerjão, para a Casa. O edifício, que hoje é sede de secretarias estaduais, deve passar por reformas para, provavelmente a partir de maio de 2017, receber os gabinetes dos 70 deputados estaduais. Também ficou para 2017 a decisão sobre o futuro da caixa envidraçada da Praça Quinze, onde os legisladores trabalham atualmente.