Grajaú-Jacarepaguá teve casos de violência em 14 dias de junho, segundo relatos

19/07/2017 - O Globo

Rotina de assaltos e tiroteios tem assustado motoristas e moradores da região


Território de medo. A Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, que tem trechos cercados por favelas e outros, por área de mata: riscos de arrastões e tiroteios
Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Território de medo. A Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, que tem trechos cercados por favelas e outros, por área de mata: riscos de arrastões e tiroteios - Custódio Coimbra / Agência O Globo
   
POR ELENILCE BOTTARI 

RIO - Já se foi o tempo em que a professora universitária Inês Meneses se sentia aliviada quando, a caminho de casa, chegava à Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá. O frescor da região, cercada pela Mata Atlântica do Parque Nacional da Tijuca, era indicativo de que, depois dali, estaria logo com a família. Mas essa sensação não existe mais. Hoje, atravessar os nove quilômetros de extensão da Avenida Menezes Cortes é, não só para Inês, um momento de muita tensão.

E não é para menos: só em junho, usuários alertaram em redes sociais a ocorrência de tiroteios e arrastões em pelo menos 14 dos 30 dias do mês, numa média de um caso a cada dois dias. A rotina de violência transformou a bucólica estrada na serra - inaugurada em 1950 para aproximar a região de Jacarepaguá do Centro - em mais uma via expressa do medo.

Só na última semana, quatro casos obrigaram a CET-Rio a interditar as pistas por dois dias consecutivos, devido ao risco de balas perdidas. Na quinta-feira passada, bandidos roubaram um caminhão com carga. No dia seguinte, houve um arrastão na via, no mesmo horário em que um policial militar foi morto num assalto no Grajaú.

Entre as principais causas para a mudança de perfil da autoestrada, estão o crescimento desordenado do Complexo do Lins - que fez com que brotassem inúmeros acessos nas margens da via, que facilitam a fuga das quadrilhas - e o alto índice de acidentes que param o trânsito, tornando os motoristas presas fáceis para assaltantes.

- Há 25 anos uso a Grajaú-Jacarepaguá, e, recentemente, a situação piorou muito. Agora em junho presenciei um arrastão. Tinha um carro atravessado na pista. Na hora, enviei uma mensagem para o meu irmão, que costuma passar por ali, alertando para o risco. Aliás, sempre que vou pegar o ônibus, verifico antes os alertas nas redes sociais - contou Inês, que também já foi obrigada a se jogar no piso do ônibus em que viajava durante um tiroteio.

Embora ocorram casos de violência em toda a extensão da via, alguns pontos são considerados mais perigosos por quem passa por lá. Do quilômetro 1 ao 3, trecho onde ficam os morros do Encontro, da Cachoeira Grande, da Cachoeirinha, do Gambá e da Cotia, os tiroteios são mais frequentes e há também registros de ataques a motoristas. Já chegando a Jacarepaguá, na altura do quilômetro 6, trecho cercado de mata e com menos policiamento, são muitos os arrastões.

- Aqui, perto do Hospital Federal Cardoso Fontes, tem um problema sério. As quadrilhas ficam escondidas perto da lixeira, esperando o trânsito ficar mais lento para atacar. Eles descem com fuzis e saem fazendo a limpa em carros e ônibus. Quando tem acidente, então, eles descem logo. E muitos carros tentam fugir na contramão, deixando o trânsito ainda mais caótico - contou uma servidora da unidade de saúde.

Dados do aplicativo de trânsito Waze, analisados pelo Centro de Operações Rio (COR), revelam que engarrafamentos na via podem chegar a atingir seis quilômetros de extensão. Isso representa dois terços da autoestrada, que tem, em média, um fluxo diário de 50 mil veículos em seus dois sentidos. Para o chefe executivo do COR, Marcos Landeira, a fluidez do trânsito tem ligação direta de causa e efeito com a segurança.

- Nossa preocupação ali é manter um fluxo de trânsito que garanta a segurança. Quanto mais engarrafada a via, maior a chance de arrastões e outros crimes - explicou Landeira.

Segundo ele, o alto número de acidentes também preocupa:

- Nosso conselho é que os motoristas procurem respeitar as normas de trânsito, para evitar os acidentes e permitir um fluxo razoável de veículos. Nós trabalhamos junto com a Polícia Militar para tentar desobstruir as pistas o mais rápido possível. Quando tem confrontos, a PM nos alerta e fazemos a interdição parcial ou total das pistas para evitar riscos - afirmou Landeira, acrescentando que em 2017 houve seis interdições por conta de confrontos.

Com nove quilômetros de extensão, a autoestrada está sob a jurisdição de três batalhões da PM e de quatro delegacias. A PM informou que sempre responde prontamente às ações criminosas no local, mas que "o grande trecho margeado por comunidades possibilita a ação desses criminosos que visam interromper o fluxo e cometer assaltos".